sábado, 27 de dezembro de 2014

Quando Lisboa Tremeu

















Autor: Domingos Amaral
Editora: Casa das Letras
Páginas: 487
ISBN: 9789724619866
 
Sinopse:
Lisboa, 1 de Novembro de 1755. A manhã nasce calma na cidade, mas na prisão da Inquisição, no Rossio, irmã Margarida, uma jovem freira condenada a morrer na fogueira, tenta enforcar-se na sua cela. Na sua casa em Santa Catarina, Hugh Gold, um capitão inglês, observa o rio e sonha com os seus tempos de marinheiro. Na Igreja de São Vicente de Fora, antes da missa começar, um rapaz zanga-se com sua mãe porque quer voltar a casa para ir buscar a sua irmã gémea. Em Belém, um ajudante de escrivão assiste à missa, na presença do Rei D. José. E, no Limoeiro, o pirata Santamaria envolve-se numa luta feroz com um gangue de desertores espanhóis.
De repente, às nove e meia da manhã, a cidade começa a tremer. Com uma violência nunca vista, a terra esventra-se, as casa caem, os tectos das igrejas abatem, e o caos gera-se, matando milhares. Nas horas seguintes, uma onda gigante submerge o terreiro do Paço e durante vários dias incêndios colossais vão atemorizar a capital do reino. Perdidos e atordoados, os sobreviventes andam pelas ruas, à procura dos seus destinos. Enquanto Sebastião José de Carvalho e Melo tenta reorganizar a cidade, um pirata e uma freira tentam fugir da justiça, um inglês tenta encontrar o seu dinheiro e um rapaz de doze anos tenta encontrar a sua irmã gémea, soterrada nos escombros. 
 
Opinião:
O Terramoto de Lisboa de 1755, é um acontecimento histórico que desde muito novo me suscita um enorme interesse. Assim, um livro que se foque neste acontecimento, à partida, é-me apelativo tendo em conta o seu conteúdo.
 
"Quando Lisboa Tremeu" foi um livro, de uma facilidade considerável, no que toca ao enveredar-me no seu argumento. A forma como somos introduzidos na sua leitura, a sua divisão em capítulos curtos e a descrição dos acontecimentos ao mesmo tempo que nos são apresentadas as várias personagens que iremos acompanhar ao longo das suas quase 500 páginas agradou-me, bem como o encadeamento de vistas apresentadas pelas várias personagens de determinados acontecimentos.

O narrador que conta a sua versão e o que os restantes personagens lhe forma contanto, fora algumas irrealidades, dar uma cadência engraçada à narrativa.
 
No fim de tudo pareceu-me um autor com capacidade de escrever bons livros, mas necessita de maturar, porque este poderia ser um bom livro mas na minha opinião é apenas mediano.

Como disse, a história é extremamente interessante, o discurso fluído, os diálogos sempre presentes e bem encadeados, mas é um livro que me fez lembrar quando li o "Código da Vinci", foi um livro que me interessou muito no início, mas que me foi fartando ao longo do seu desenrolar. E porquê?

Primeiro porque é extremamente longo, longo porque começa a arrastar-se na narrativa e na segunda metade torna-se excessivamente extenso sem avançar de forma relevante na história.

Depois porque tem alguns momentos perfeitamente descabidos, eu compreendo que o autor pretenda colocar as personagens nos momentos mais relevantes dos acontecimentos do Terramoto de 1755, mas há alguns em que não dá para colocar um protagonista mesmo no centro do acontecimento e por um passe de mágica fazê-los sobreviver e ficar a contar a história. Refiro-me especialmente ao tsunami.

Outro momento que me fez abanar a cabeça de incredulidade foi a forma como Santamaria, o personagem principal, expulsa "o mal que está dentro dele". É de ficar sem palavras de tão patético. O típico, "e pronto, já está...".

E por fim, se por um lado a narrativa ao ser feita com um enorme ênfase na oralidade, o que cria a tal fluidez na leitura, tem também um defeito que se torna irritante e tira mesmo seriedade à obra. Refiro-me aqui às variações de sotaque das seguintes personagens:

Gold o comerciante inglês: "Jesus... You precisa de any coisa?" e  "Hey man, good luck! I hope cambada não comes here."

Alice a freira lésbica: "Bais demorar dias até cunseguir tirar esta porcaria toda e descovrir a cabe".

Muhammed o pirata árabe que gosta de rapazinhos: "Devíamos ir rio, ir fugir."

E assim ao longo de quase 500 páginas, para além de dificultar a leitura e se tornar exasperante, especialmente o inglês por estar mal concebido duplamente. Primeiro porque às vezes diz umas palavras em português que na frase seguinte já não as é capaz de dizer, o que parece perfeitamente aleatório, e porque com tanto inglês misturado duvido que houvesse gente em Lisboa nessa época que percebesse alguma coisa do que ele dizia.

Em resumo, o autor tem potencial, o argumento é interessante e a base da forma como nos é exposto está bem conseguido, mas peca por ter algumas discrepâncias e aspectos que desajudam a narrativa. Não é mau, mas tinha tudo para ser muito melhor.

Nota (escala 1 a 10): 6
TheKhan

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