sábado, 28 de fevereiro de 2015

Uma Noite em Lisboa
















Autor: Erich Maria Remarque
Editora: Edições Saída de Emergência
Páginas: 218
ISBN: 9-789896-372354

Sinopse:
A Alemanha Nazi ocupava grande parte da Europa. Terra de todos e de ninguém devido ao jogo duplo de Salazar, Lisboa foi durante toda a guerra um território neutro. Num cenário de guerra e perseguição, tornou-se o paraíso à beira-mar plantado. Para além da sua beleza natural e da paz, foi uma das poucas portas de saída para os que desejavam uma oportunidade para construir uma nova vida do outro lado do Atlântico.

Depois… uma noite em Lisboa, quando um refugiado olha cobiçosamente para um transatlântico, um homem aproxima-se dele com dois bilhetes de embarque e uma história para contar. É uma história perturbante de coragem e traição, risco e morte. Onde o preço do amor vai para além do imaginável, e o legado do mal é infinito. À medida que a noite evolui, os dois homens e a própria cidade criam um laço que vai durar o resto das suas vidas…

Opinião:
Realmente não há nada como os clássicos. Um clássico se o é por alguma razão é. No fim quando os acabamos de ler, fechamos o livro e sentimos o prazer de termos ocupado o nosso tempo, com algo que merece totalmente o momento da nossa vida que lhe dedicámos.

"Uma Noite em Lisboa" é a confirmação para mim que Erich Maria Remarque é um autor fabuloso, uma referencia e uma certeza em futuras compras.

Como definir este livro? Talvez a sinopse ajude, é sem dúvida uma história perturbante, mas o conhecimento que vamos acumulando da Alemanha Nazi, faz com que perturbe, mas não surpreenda. Coragem, traição e risco estão, ao longo do livro, interligados e a morte é inevitável quando esta época é retratada. Mas acima de tudo aquilo que define o livro, e eu não o esperava, é uma enorme história de amor que de convencional, tem muito pouco.

Remarque conta-nos uma história via narrador e co-narrador, que se encontram numa noite em Lisboa a olhar para o Tejo. O narrador, o refugiado que olha cobiçosamente para o transatlântico, narra a noite na qual o co-narrador, o homem que se aproxima com os bilhetes, lhe conta aquela que é a história que alimenta o livro. O narrador muitas vezes ao longo do livro mistura-se com o leitor, pois ambos são receptores daquilo que Josef ou Schwarz, o refugiado que é homem dos bilhetes deseja contar.

O autor no seu brilhantismo, senta-nos à mesa com Schwarz e faz-nos sentir a sua história de uma forma tão profunda que nos consegue envolver sentimentalmente com os acontecimentos. Aqui não se coloca a trivialidade de gostarmos ou não dos personagens, isso é irrelevante, pois nunca nos são apresentados aprofundadamente. O que sabemos é que são refugiados, quase anónimos que apesar de toda a superficialidade na sua apresentação marcam-nos.

O elemento preponderante na história é um passaporte, com o nome Schwarz, que vai sendo herdado por refugiados quando o "Schwarz" anterior morre ou desaparece. É este passaporte que despoleta toda a história contada, é o símbolo da esperança, o elemento que pode abrir portas para um futuro melhor, mas que também é maldição que cairá sobre o seu portador.

Remarque não cria suspense, abre o jogo de início, sabemos como irá terminar. Mas tem o dom de nos manter extremamente interessados no desenrolar que levará a esse fim. É um livro que quando chegamos à palavra fim não nos deixa a assobiar para o lado, pesa, interioriza-se e abala o optimismo.

O autor, ele próprio um refugiado da guerra, personaliza a brutalidade do Regime Nazi que conhecemos em massa, transportando-o para o individuo, e ao particularizá-lo torna-o ainda mais brutal e injustificável.

Não há nada de negativo a assinalar a este livro. Apenas não surpreende, não é uma obra que se destaque em originalidade, é apenas extremamente honesto. De resto, é uma obra que nos dá que pensar e isso, é o melhor que se pode desejar de um livro. 

Nota (escala 1 a 10): 7,5
TheKhan

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